(Museu Leonel Trindade)
A
passagem do nomadismo, característico do paleolítico, para o sedentarismo,
originando o aparecimento dos primeiros povoados humanos, que acompanhou a
passagem de uma economia recolectora para uma economia produtiva, através da
domesticação de animais (pecuária) e plantas (agricultura), característico do
neolítico, foi um longo processo de transformação.
Geralmente,
o chamado Neolítico é datado de entre 10 mil anos e 3 mil anos antes da nossa
Era.
Na
Europa, o Neolítico terá tido início por
volta de 6 mil antes da nossa era e, na Península Ibérica, ainda mais
recentemente, por volta dos 5 mil anos antes da nossa era.
Na
região torriense, muitos dos vestígios característicos do neolítico
encontram-se junto de povoados do período do calcolítico (de, aproximdamente,
entre 3 mil a mil e oitocentos a.C), parecendo configurar, não só uma tardia
“instalação” do neolítico no território, como uma eventual continuidade e
evolução da ocupação humana desses “povoados” do neolítico para o calcolítico,
onde se confundem as duas influências.
Alguns
dos autores abaixo citados apontam a existência de povoados neolíticos na vertente
NO do Cabeço do Castelo, margem direita do Alcabrichel, Maceira e nos “castros”
de S. Mateus, em Monte Redondo, da Portucheia, do Barrigudo, do Pico Agudo, a
Sul do Cabeço do Castelo, Maceira, do Casal da Cidadoura, do Monte do Crasto,
no Vespeiro, a sul do Zambujal e no Varatojo.
Presumivelmente
do mesmo período foram encontrados vários
objectos dispersos em pedra polida na zona urbana de Torres Vedras, em
S. Mamede da Ventosa, no Figueiredo, no Turcifal, na Assenta, em Cambelas, no Vale da Mata, perto do Maxial.
Aliás, na “área do Maxial há alguns pontos que deveriam ser objecto de uma
prospecção. A SE do lugar, há uma sequência de elevações que seriam
susceptíveis de fornecer bons abrigos: de Oeste para Leste, temos A-Do-Verde
(140 metros de altitude), Outeiro do Vento (236), Cabeço do Jardo (150 metros
de altitude) e Fogarosa (ponto em que está instalado um marco trignométrico)”
(FREITAS, 1959, vol.1, p.240).
As
dúvidas sobre a origem neolítica desses vestígios tem um “possível explicação
(…) no facto de se terem registado profundas alterações no meio ambiente”,
desde a última glaciação, ocorrida há uns 10 mil anos, fazendo aumentar os
níveis dos oceanos, sendo “as terras baixas, vales e planícies, propícias a uma
agricultura neolítica (…) invadidas pelas àguas do mar”, soterrando “possíveis
futuras aldeias e campos de cultivo” (RODRIGUES, 1996, pág.39).
Assim
só existem algumas certezas da sedentarização e da formação de povoados na região já durante o
período Calcolítico.
Entre
os povoados datados do Calcolítico refiram-se:
–
o Castro da Achada, Monte da
Achada, Monte Redondo, descoberto por Leonel Trindade em 1951, com ocupação no
início da Idade do cobre, podendo ter tido uma segunda ocupação durante a Idade
do bronze;
–
o Castro da Fórnea, Matacã, contemporâneo do Castro do Zambujal, de cuja
proximidade se pode especular sobre o tipo de relações existentes entre esses
dois sítios. João Ludgero Gonçalves avançou a hipótese de a Fórnea poder ser
“uma atalaia de defesa de uma boa via de comunicação (como é o vale do rio
Sizandro) ou do limite fronteiriço de um teritório (...) ou o posto avançado
para exploração de fontes de matéria-prima, de um território económico liderado
por um lugar central” que podia ser o Zambujal. (GONÇALVES, 1995, p.139);
–
a Póvoa do Penedo, Runa, descoberto por Ricardo Belo em 1933, tendo recolhido
mais de 800 peças datadas do eneolítico. “A construção pode ser considerada uma
última variante das fortificações das colónias da Idade do Cobre, em território
português, e apresenta uma superfície interior relativamente pequena”
(RODRIGUES, 1999, p.70);
–
o Pitagudo, perto de A-Dos-Cunhados.
–
a Serra de Sarreira, Freiria.
–
o Castro do Zambujal, o mais conhecido e estudado e que já foi referido noutra
crónica nossa,descoberto por Leonel Trindade em 1938. Terá
sido ocupado entre 2500 aC. e 1700 aC;
–
o Castro do Cabêço do Jardo, junto ao Maxial;
–
o Castro do Monte de S. Mateus, junto à Lobagueira, Maxial;
–
o Castro do Outeiro da Cabeça;
–
o Castro do Casal da Passadeiras, Maxial;
–
no Varatojo, próximo do Convento, um “Castro” não fortificado, datado de 2500
aC;
-
na Quinta das Galhardas, a oeste da
Ribaldeira;
–
no Monte da Doutora, Sarreira, Freiria;
–
o Castro da Boiaca.
Várias
são igualmente as necrópoles
calcolíticas identificadas na região:
–
Borracheira, S. Pedro;
–
Lapas Grandes, Monte Redondo.Duas grutas artificiais construídas entre 2700 e
2500 aC., talvez ainda no Neolítico final. Uma das grutas
foi novamente ocupada no Calcolítico Final (entre 2000 e 1500 aC.).Ambas
voltaram a Ter uma ocupação humana entre 1000 e 800 aC.(Bronze final );
–
Lapa da Rainha II, Maceira;
– Gruta do Sapateiro, vertente SO do “Cabeço
do Castelo”, Maceira;
–
Portucheira I, Matacães;
–
Cova da Moura, S. Pedro. Gruta natural, na margm esquerda do Sizandro, entre
Torres Vedras e as termas dos Cucos, junto à linha de caminho de ferro, na
Boiaca. Nela foram encontrados 90 esqueletos. Próximo dela existem várias
grutas naturais, mas só numa delas, a chamada “Cucos II”, foi encontrado
material arqueológico, um machado em pedra polida;
–
Monte da Pena, “Tholos” do Barro, S. Pedro. Descoberto em 1909 pelo Padre
Paul Bovier-Lapierre. A maior parte do espólio aí encontrado está no Museu
Nacional de Arqueologia e Etnologia. O espólio encontrado nas imediações
daquele monumento por Leonel Trindade encontra-se no Museu de Torres Vedras e é datado, quer do calcolítico, quer o
Bronze final;
–
no Casal Charrino, perto do castro do Varatojo, S. Pedro, um “Tholoi”, hoje completamente
destruído.
–
Bolores, S. Maria;
–
Cabeço da Arruda, Freiria.Conjunto de três
sepulturas do calcolítico, duas colectivas e uma de tipo “tholos;
–
Serra das Mutelas, perto da Quinta de Charniche, S. Mamede da Ventosa.“Tholoi”
hoje completamente destruída;
–
Serra da Vila, Stª Maria.Sepultura megalítica, tipo “tholos”.Foi completamente destruída;
– Junto a Vila Seca, Maxial. Monumento
megalítico;
-
Quinta de Entre Campos, Ermegeira, Maxial. Gruta artificial. Entre os objectos
aqui encontrados, destaca-se um par de brincos em ouro e quatro pequenos tubos
de folha enrolada do mesmo metal;
–
Abrigo da Carrasca, perto da Macheia, Matacães. Abrigo sob rocha de grandes
dimensões, datado de entre 2500 e 2200 aC;
–
Lapa do Paio Correia ou Lapa do Preto, junto à Vala do Pisão, Vila Facaia,
Ramalhal.Gruta artificial. Datação desconhecida, provavelmente de entre o IIIº
e IIº milénio aC.;
–
Moinho da Lapa, Stª Maria.
Também
do período calcolítico estão registados vário achados isolados, alguns de
superfície nos seguinte locais: Vespeiro, S.Pedro; Barrigudo, Runa; Cucos II, S. Pedro; Casal da Serra, S. Mamede
da Ventosa; Fonte Grada, Stª Maria; Sequeira, Silveira; Forte do Canudo, Stª
Maria; Charnais, Serra da Vila; Casal da Amoreira, S. Pedro da Cadeira; Casal
do Sobrigal, S. Domingos de Carmões.
BIBLIOGRAFIA
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- TORRES, Manuel Agostinho Madeira,
Descripção Historica e Economica da villa e termo de Torres-Vedras, - parte
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manuscrito inédito no Arquivo Municipal de Torres Vedras.
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da Maceira (Vimeiro), Porto 1949, Instituto para a Alta Cultura-Centro de
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- VIEIRA, Julio, Torres Vedras
Antiga e Moderna, Sociedade Progresso Industrial, T. Vedras, 1926.
(não
incluímos a vasta bibliografia sobre o Castro do Zambujal, já referida noutro
artigo)